A combinação de crédito escasso e juro alto, que ao mesmo tempo reduz a disposição para investimentos e limita a capacidade de financiamento de imóveis, fará a construção civil em Minas Gerais experimentar o segundo ano consecutivo de retração, em 2015, com efeitos severos na cadeia e no mercado de trabalho do setor. Nos últimos 12 meses, 67,2 mil trabalhadores perderam o emprego no Estado. No país, este número chegou a 442,3 mil. O Produto Interno Bruto (PIB) do setor terá este ano queda de 8% e encolherá mais 5% em 2016, segundo estimativa divulgada no dia 11 de dezembro pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG). Caso se confirmem as projeções, serão quatro anos sem crescimento. (veja outros números abaixo)
O fraco desempenho influencia também o faturamento da indústria de materiais de construção, onde a queda foi de 12,8% de janeiro a novembro deste ano em relação a igual intervalo do ano passado.
“O que precisamos é de uma mudança no modelo da economia. O setor tem uma capacidade de reposta muito boa, e assim que as expectativas forem melhores e a confiança retomada, voltaremos a crescer rápido”, disse o presidente do Sinduscon-MG, André de Souza Campos.
Ele ponderou que apesar de 2015 “ser um ano para ser esquecido”, em 2016 a situação promete melhorar.
“Teremos maior equilíbrio entre oferta e demanda porque reduzimos os lançamentos. Como o financiamento de um imóvel usado fica quase impraticável pelo alto valor que se cobra de entrada, isso pode ser algum alento para o setor”, observou.
Os lançamentos, somados imóveis residenciais e comerciais, caíram 50% de janeiro a setembro deste ano em relação a igual período do ano passado. Como o desempenho projetado para o último trimestre deste ano não é animador, a queda no ano pode chegar a 60%.
“Enquanto os lançamento no último trimestre de 2014 ultrapassaram 1,7 mil unidades, no mesmo período deste ano serão entre 500 e 700”, disse o vice-presidente da área Imobiliária do Sinduscon, João Francisco Couto Araújo Cançado.
Emprego
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a construção civil reduziu o contingente de pessoal empregado na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) em 34,9 mil postos nos últimos 12 meses encerrados em outubro .
BH e Nova Lima
No dia 11/12, o Sinduscon lançou uma nova pesquisa para o setor da construção civil mineira. O levantamento inédito revela o estoque de imóveis na capital e em Nova Lima, importante polo imobiliário do Estado.
Desde 2010, a oferta de imóveis somou 23,7 mil unidades e o estoque atual é de 4.748, ou 20% do total. Há maior disponibilidade de imóveis na região da Pampulha, com 967 unidades (20% do total) e na Centro-Sul, 822 unidades (17%), seguidos da região Oeste, com 570 unidades e de venda Nova, com estoque de 548 imóveis.
Política
O presidente do Sinduscon, André de Souza Campos, comentou que a crise política tem afetado, e atrasado, a recuperação da economia nacional.
Cauteloso, ele preferiu não se posicionar sobre a possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas pediu uma mudança de postura na política independentemente do desfecho que terá o pedido de afastamento da chefe do Executivo.
Atrasos no Minha Casa, Minha Vida desequilibram o caixa de pequenas e médias
O enfraquecimento do programa “Minha Casa, Minha Vida” é outro baque para a indústria da construção civil em Minas Gerais. Em 2015, além de conviver com atrasos nos pagamentos, nenhum contrato para a Faixa 1 do programa, aquela com imóveis mais populares, foi assinado.
Os subsídios do governo federal, neste caso, ultrapassam 90% do valor do imóvel. As famílias pagam apenas 5% de sua renda familiar, a partir de R$ 25 mensais, durante 120 meses, e podem adquirir imóveis com valor de até R$ 96 mil, dependendo da região.
Para o presidente do Sinduscon-MG, André de Souza Campos, há um “assistencialismo exacerbado” nesta faixa, onerando muito a União, que não conseguiu bancar o programa. A proposta do Sinduscon-MG é diminuir os subsídios governamentais e aumentar o volume de recursos do FGTS aportados no programa.
“O que propomos é um ponto de equilíbrio. Da forma que está a Faixa 1, há quatro anos sem reajuste, deixou de ser atrativo para as construtoras”, disse.
Ele lembrou que o “Minha Casa, Minha Vida” talvez seja o programa de maior sucesso do governo federal e destacou o trabalho “sério” realizado pela Caixa. No entanto, este ano, o governo atrasou, segundo ele, vários pagamentos relativos ao programa habitacional.
“Os atrasos foram todos da Faixa 1 do programa e chegaram a 90 dias. As construtoras dessa faixa são pequenas e médias, sem capital de giro, e entram em sérias dificuldades por isso. Algumas fecharam”, disse. Hoje, ainda existem atrasos, de 30 a 60 dias, mas são casos pontuais, segundo Campos.
Fonte: Hoje em Dia