Depois de fortemente impulsionada pelos empreendimentos imobiliários entre 2005 e 2012, a indústria da construção civil contava com a ativação das obras de infraestrutura anunciada pelo governo no ano passado para manter seu ritmo de crescimento em 2013. Resultados recentes, no entanto, mostram que as obras do programa Minha Casa, Minha Vida, que sustentaram a atividade na construção até o ano passado, perderam vigor, as obras de infraestrutura já anunciadas e em execução continuam em ritmo lento e, das novas, poucas saíram do papel.
Não causam surpresa, portanto, os resultados da Sondagem da Indústria da Construção, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Eles mostram que o setor continua desaquecido. O estudo indica que, na avaliação dos empresários do setor, o nível de atividade da indústria de construção voltada para obras de infraestrutura em outubro foi menor do que o de setembro e o de outubro do ano passado. Também as empresas que se dedicam à construção de edifícios avaliam que o nível de atividade é igual ou menor do que o de outubro do ano passado.
É uma constatação frustrante. Como estamos a poucos meses da realização da Copa do Mundo, esperava-se a intensificação da atividade da construção civil nessa época, pois muitas obras de infraestrutura ainda não foram concluídas. Além disso, há menos de um ano e meio, a presidente Dilma Rousseff anunciou um ambicioso Programa de Investimento em Logística que prevê aplicações de mais de R$ 500 bilhões pelo setor público e por empresas privadas, mas quase nada foi feito de prático até agora. Algumas tentativas fracassaram, outras alcançaram êxito limitado e outras ainda tiveram de ser adiadas por razões técnicas ou por notória falta de interesse de parceiros privados nos empreendimentos que lhes seriam oferecidos.
O programa de logística prevê investimentos de R$ 91 bilhões em ferrovias, com a concessão de 10 mil quilômetros, e R$ 42 bilhões em rodovias, num total de 7,5 mil quilômetros. Haverá ainda investimentos em aeroportos e portos.
Inicialmente, previa-se que até setembro seriam leiloados os oito lotes de rodovias a serem recuperados, expandidos e operados pelo setor privado, os 10 mil quilômetros de ferrovias e 159 terminais portuários. Até agora, porém, só um lote rodoviário foi concedido, pois não houve interessado para o segundo oferecido em leilão.
Das obras rodoviárias incluídas nas duas versões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), as principais apresentam atraso de até sete anos. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) passou por um processo de faxina, depois de denúncias de corrupção feitas no ano passado e que levaram à demissão do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, do diretor-geral da autarquia, Luiz Antônio Pagot, e de dezenas de funcionários, mas parece que ainda não conseguiu recuperar sua eficiência operacional. Até outubro, havia conseguido aplicar apenas 48% dos R$ 13,2 bilhões de que dispõe para investir em 2013.
Das despesas totais vinculadas à Copa do Mundo, de R$ 26,2 bilhões, apenas R$ 7,9 bilhões, ou 30,1%, foram liberados até o fim de outubro. De RS 8,9 bilhões que foram autorizados para obras de mobilidade urbana incluídas na chamada matriz de responsabilidade da Copa, apenas R$ 2 bilhões foram efetivamente aplicados.
Até 2018, a Região Sudeste terá de investir R$ 590 bilhões em infraestrutura, para assegurar seu crescimento. É mais do que o total previsto para todo o País, e em prazo semelhante, no programa de logística anunciado pela presidente Dilma no ano passado.
Números como esses dão a dimensão das carências do País. Mas relatórios sobre a atividade da construção civil mostram como continua difícil o País ter suas necessidades atendidas no ritmo necessário por causa da persistência das conhecidas dificuldades do setor público – má gestão, má qualidade de projetos, restrições ideológicas à participação do setor privado, entre outras – para acelerar os investimentos.
Fonte: O Estado de São Paulo