Sonho de muitos brasileiros, a casa própria poderá se tornar uma realidade mais fácil em 2014, ano em que as construtoras apostam tudo na recuperação dos negócios, depois de resultados minguados desde 2011. Movidas a crédito, as empresas querem desovar os estoques e ampliar a média de lançamentos, que ficaram engavetados diante do fraco desempenho da economia. A alavanca virá, sobretudo, do crédito farto. Estima-se que os consumidores terão disponíveis pelo menos R$ 172,8 bilhões para financiamentos, somados os recursos da caderneta de poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
O ano que se encerra agora já foi de aumento de crédito. Mas grande parte da alta representa a recuperação do patamar de 2011, já que em 2012 houve perda considerável. Levantamento da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) mostra que o total de imóveis financiados com recursos dessa modalidade de depósito bancário deverá somar 520 mil unidades em 2013, alcançando o valor recorde de R$ 100 bilhões. Se confirmado, o montante é 19% superior aos R$ 84 bilhões destinados a 450 mil imóveis no ano passado. Para 2014, a expectativa do setor é de um acréscimo de mais 15% no volume de recursos, chegando à marca de R$ 115 bilhões.
O presidente da Abecip, Octávio de Lazari Junior, espera um crescimento entre 15% e 20% nos financiamentos no próximo ano. Para isso, ele conta com o avanço do crédito puxado pelo apetite dos bancos pela carteira imobiliária, além da melhora do caixa de construtoras e da manutenção dos níveis gerais elevados de emprego e renda.
Só de janeiro a outubro, o crédito imobiliário cresceu 34% em comparação a igual período de 2012, atingindo R$ 88 bilhões, dos quais R$ 63 bilhões para pessoas físicas. Os financiamentos para as empresas de construção fecharam 2012 em queda de 20% e subiram 19% nos primeiros 10 meses deste ano.
Em preparação para esse boom de crédito, o Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu ampliar o valor máximo dos imóveis que podem ser financiados via Sistema Financeiro de Habitação (SFH), com recursos do FGTS e juros mais baratos. Desde outubro, o valor dos imóveis que o empregado pode comprar usando seu saldo do fundo subiu para R$ 750 mil em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Distrito Federal, e de R$ 650 mil nas demais regiões. O limite anterior, de R$ 500 mil, estava em vigor desde 2009. Os empresários aplaudiram a medida.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady, aposta em uma recuperação geral do setor em virtude dos investimentos federais em infraestrutura e, sobretudo, à nova etapa do Minha Casa, Minha Vida. O programa federal representou cerca de um terço do total das construções habitacionais no país em 2013, segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Para o governo, os alvos desse esforço são as eleições e a tentativa de impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB), ao mobilizar 1,3 milhão de trabalhadores.
“Este ano ainda não trouxe os resultados que esperávamos, mas confiamos nos anúncios feitos pela presidente Dilma Rousseff para colher melhores resultados em 2014. Queremos continuar cumprindo o papel de principal indutor do crescimento da economia”, discursou Safady, na semana passada. Mesmo assim, os especialistas alertam para a necessidade de os investidores se acostumarem com uma realidade mais moderada no segmento imobiliário nos próximos anos, diferentemente da arrancada iniciada uma década atrás, que alcançou o auge em 2011. “O mercado fez, em 2012 e neste ano, um ajuste natural em relação ao excesso de oferta e à redução no ritmo da demanda. De toda forma, dificilmente, voltaremos a constatar expansões de dois dígitos”, prevê Luis Fernando Mendes, economista do Cbic.
Menor inadimplência
Depois dos frutos do novo marco regulatório, com a introdução de garantias que derrubaram a inadimplência e empolgaram os financiadores, novos saltos vão depender de ganhos de eficiência e custos menores, ressalta Mendes. “A demanda reprimida, sobretudo da classe média, somada ao farto crédito, impulsionou o setor por quase uma década. Mas era de se esperar uma acomodação para iniciar uma transição para um ritmo sustentável”, acrescenta.
Na sua opinião, a perda da produtividade da mão de obra vai exigir a introdução de novos materiais e tecnologias. “Um novo salto do setor vai depender de taxas de produtividade mais competitivas”, sublinha. Estudos do Banco Central (BC) mostram que há espaço de crescimento ao considerar a relação entre crédito imobiliário e PIB do país. Em 2013, o percentual deve chegar a 8%, um terço do que se vê na África do Sul, por exemplo.
O setor da construção civil no Distrito Federal espera dobrar o número de seus empreendimentos em 2014. “Neste ano, tivemos 18 lançamentos. Foi um número menor do que o do mesmo período no ano passado, mas, em contrapartida, o ritmo de vendas continua o mesmo de 2012”, observa Julio Peres, presidente do Sinduscon-DF. Na sua avaliação, os estoques já iniciaram uma vigorosa trajetória de redução, reforçando a perspectiva de recuperação dos negócios. “Isso nos leva a apostar na retomada dos lançamentos no ano que vem”, acrescenta.
“Os estoques cresceram demais e a velocidade de vendas reduziu”, conta Peres. Os lançamentos saíram de 84 em 2010, para 56 no ano seguinte e 38 no ano passado. Em 2013, foram só 18. “Quem comprou para revender com ágio, começou a sair do mercado. A valorização neste ano foi de 6%, abaixo da média, que tem sido de 10% ao ano”, diz. A falta de infraestrutura urbana, como ocorre no Noroeste, também pressionou os preços para baixo.
Fonte: CBIC