A indústria do aço é uma das que produzem maior quantidade de resíduos – a cada tonelada de aço, sobram 594 quilos de sucata. É também a indústria que mais investe no reaproveitamento desse material e em políticas voltadas para a sustentabilidade – em 2013, o setor desembolsou R$ 763 milhões em projetos de proteção ambiental. No ano passado, a indústria fabricou 34,2 milhões de toneladas de aço e reaproveitou 17,7 milhões de toneladas de resíduos e em co-produtos.
Os números constam do Relatório de Sustentabilidade 2013, que será divulgado neste mês de agosto pelo Instituto do Aço Brasil. Segundo esse balanço, as 29 usinas do país, administradas por 11 grupos empresariais, produziram 34,2 milhões de toneladas ano diante de uma capacidade instalada de 48,4 milhões de toneladas.
O relatório cita outras iniciativas, como investimentos na racionalização dos recursos hídricos. A principal delas é a recirculação da água, que em 2013, apresentou índice de 96%. Segundo o relatório, significa dizer que 4,7 bilhões de metros cúbicos de água circulam anualmente em circuito fechado, “garantindo que as empresas brasileiras estejam entre as melhores em nível global”.
“Diante do volume fabuloso de resíduos produzidos – quase 600 quilos por tonelada – fizemos diversas parcerias e convênios com universidades e institutos de pesquisas para encontrar alternativas para a utilização desse material”, afirma diz Cristina Yuan, diretora de Assuntos Institucionais do Instituto do Aço.
“Hoje esses resíduos têm aplicação sustentável e são denominados co-produtos”, diz. Os co-produtos são produzidos pelas próprias siderúrgicas e utilizados na produção de cimento e de cerâmica, além do uso na construção de estradas e rodovias.
“A preocupação com a reciclagem sempre existiu na indústria do aço”, diz Cristina. Esse movimento começou após o processo de privatização, na década de 80, quando as empresas passaram a investir em equipamentos voltados para o meio ambiente. “Evoluímos para outro conceito, que não era apenas olhar para o meio ambiente, mas para a sustentabilidade, ou seja, investir na integração dos três pilares de política: o econômico, o social e o ambiental”, completa. Com o surgimento da legislação ambiental, “o setor percebeu que era imprescindível adotar medidas de controle da poluição, de proteção ao meio ambiente e com isso as empresas começaram a instalar equipamentos de controle da água e em gestão de resíduos. Tudo isso exige investimentos pesados”, comenta.
Segundo o Relatório do Instituto do Aço, a “indústria do aço tem-se unido ao esforço de toda a cadeia para aumentar o reaproveitamento de sucata, como em programas setoriais”. O instituto cita o aproveitamento de automóveis em pátios legais e novos programas, como o da frota de caminhões com idade avançada.
O grupo Gerdau, líder no segmento de aços longos, “destinou em 2013 mais de R$ 160 milhões em tecnologias voltadas ao meio ambiente em suas unidades”, diz Enio Viterbo, diretor de saúde, segurança e meio ambiente da empresa. Segundo ele, a companhia é a maior recicladora da América Latina. No ano passado, 75% do aço produzido pela Gerdau veio de material reciclável.
A companhia utiliza sucata ferrosa como matéria-prima, reaproveitando materiais não mais utilizados pela sociedade, o que diminui o consumo de energia e minimiza a emissão de gás carbônico na atmosfera. “Para a companhia, que tem 45 mil colaboradores e operações industriais em 14 países, reciclar não é apenas uma iniciativa de proteção ambiental, ela faz parte da estratégia do negócio”, afirma.
O conceito da reciclagem integra a gestão dos co-produtos decorrentes do processo de produção do aço. No acumulado de 2014, a Gerdau atingiu a marca de 82% de reaproveitamento do material internamente e por distintos segmentos da economia. “Atualmente, os co-produtos representam uma alternativa de matéria-prima sustentável para a indústria da construção civil, cimenteira e de cerâmicas. Geram economia de 30% a 50% nos custos em relação aos tradicionais, além de reduzir o consumo de energia e a emissão de gás carbônico”, diz Viterbo.
Com o aperfeiçoamento e a otimização de seus processos industriais, a Gerdau tem como meta a redução de 2,5% no consumo total de energia até o final de 2014, o que deverá gerar uma economia de cerca de R$ 40 milhões. Outra ação ambiental da companhia é a recirculação de 97,5% da água utilizada no processo industrial nas usinas produtoras de aço nos 14 países onde atua.
A Aperam South America, fabricante de aço inoxidável, produz e adquire no mercado cerca de 30 mil toneladas de sucata por ano. Esse material volta para o processo e é refundido e retoma o ciclo fechado. “Por ser ainda jovem, o mercado brasileiro tem uma produção de sucata abaixo da Europa e América do Norte, onde grande parte dos bens de capital já chegou ao final de sua vida útil”, diz Clênio Guimarães, presidente da Aperam.
Outra frente importante de proteção ambiental é a criação de uma empresa voltada ao plantio e manuseio de florestas de eucalipto para produção de carvão vegetal. A Aperam BioEnergia, que está completando 40 anos, garante um suprimento de 100% de necessidades de carvão vegetal da usina. Em 2011, a companhia saiu do forno a coque – derivado do carvão betuminoso – e foi para o carvão vegetal.
“Com a migração para o carvão vegetal conseguimos que o total de 1,4 milhão de toneladas de COdn2 que gerávamos por ano, caísse pela metade, diz Guimarães. Os investimentos nos projetos de preparação das florestas e conversão do coque para o carvão vegetal somaram US$ 95 milhões. A produção da Aperam BioEnergia corresponde a 420 mil toneladas de carvão por ano.
Além da contribuição para o meio ambiente, o presidente da empresa diz que a mudança para o carvão vegetal e a plantação de eucalipto está levando para a região pobre do Vale do Jequitinhonha geração de emprego e renda. Segundo o presidente, “a produção de aço no ano passado foi 670 mil toneladas e a tendência para 2014 é o mesmo volume”. “Nosso grande objetivo é gerar menos resíduos e procurar formas de reutilizar esse resíduo. Quando não há condições de reutilizar o resíduo dentro do nosso processo industrial desenvolvemos um cliente para esse co-produto. A última alternativa é a deposição correta ambientalmente desse resíduo. Parte da escória vendemos ou cedemos para prefeituras utilizarem em pavimentação de estradas”, completa Guimarães.
Fonte: CBIC