Mais de meio milhão de trabalhadores serão demitidos na construção civil este ano. O mercado de imóveis está quase parado e a retomada do programa “Minha Casa, Minha Vida”, que era esperança, está sem previsão.
Um dos setores que mais emprega está parado. O problema não é de hoje, a crise começou ainda no ano passado. Os corretores de imóveis foram os primeiros a sentir, porque os clientes sumiram. Um outro sinal foi a queda nas vendas de concreto. Agora, a situação se agravou. Muitas obras pararam, ou estão atrasadas. E o setor contava com a contratação imediata da fase 3 do programa “Minha Casa, Minha Vida” para tentar evitar demissões.
O ritmo de trabalho nos canteiros de obras está bem mais lento. Com a crise, muitas construtoras suspenderam planos de lançar projetos este ano. O setor já estimava que não ia crescer e agora calcula que vai encolher 7%. É assim em quase todo o país.
Em Salvador, os lançamentos de imóveis novos despencaram. Segundo a Associação de Dirigentes do Mercado Imobiliário, foram lançadas, de janeiro a agosto deste ano na cidade, apenas 431 unidades. Em 2014, nesse período, foram 1.321. Sem obras, 8,6 mil trabalhadores já perderam o emprego.
“Essa crise aí abalou principalmente a construção civil. É uma crise que ninguém sabe quando é que vai ser superada, então a gente prefere procurar outra coisa para fazer”, diz o desempregado Edvan Souza.
Tem muita gente na mesma situação. Por 17 meses seguidos o desemprego aumentou no setor. Os dados são do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo.
Entre janeiro e julho, 184 mil trabalhadores foram demitidos em todo o país. A previsão agora é de 505 mil demissões até o fim do ano.
Com essa crise toda na construção civil, a grande esperança do setor era em relação a nova fase do programa “Minha Casa, Minha Vida”. O governo até já anunciou as novas regras da fase 3, mas ainda não sabe quando ela vai começar. O esforço agora vai ser para tentar concluir as obras das fases anteriores – e que ainda não terminaram.
Representantes da construção esperavam boas notícias no anúncio feito pelo governo semana passada. Mas continuam sem qualquer previsão.
“O “Minha Casa Minha Vida”, que era a única esperança que a gente tinha de ter algum crescimento ou continuidade, ele está do jeito que está. A gente já está no mês de setembro, era para ter uma reunião para anunciar 3 milhões de moradias e está paralisado. Então, realmente o setor está sofrendo muito”, afirma o presidente do Sinduscon, José Romeu.
Na Região Metropolitana de Belém a crise atingiu em cheio as construções do programa “Minha Casa, Minha Vida”. As construtoras estão trabalhando com menos da metade da capacidade. Em um canteiro, por exemplo, o ritmo da obra está devagar quase parando. Dos 600 operários, pouco mais de 100 continuam lá. A construção civil é o setor que mais está demitindo no Pará. De janeiro a julho deste ano, quase 13 mil trabalhadores foram mandados embora.
“Não estão contratando, está ruim demais, a gente anda por aí, sai de madrugada, ás vezes vem depois do almoço, e não consegue”, conta o carpinteiro Marcelo Cardoso.
O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, diz que o governo não tem metas para a nova fase porque o Orçamento ainda vai ser votado pelo Congresso. “O que nós estamos fazendo é uma ação de transparência. Nós estamos falando a verdade para a população. Conseguimos garantir o recurso para 1,5 milhão de casas que estão sendo construídas”, explica.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção está pessimista. ““Minha Casa, Minha Vida” neste ano dificilmente terá novas contratações. Acredito que o ano que vem haja contratação, mas mais para o final do ano”, afirma o presidente da CBIC, José Carlos Martins.
Além das casas que o ministro disse que estão sendo construídas, o governo entregou, de acordo com o Ministério das Cidades, mais de dois milhões de casas desde o início do programa.
Fonte: G1