O portal do jornal Estado de Minas (www.em.com.br) publicou uma reportagem hoje sobre a relação entre a epidemia da dengue com o aumento dos custos das empresas em Minas. Um dos destaques da matéria foi as campanhas que algumas empresas mineiras estão fazendo para prevenir a proliferação do mosquito, como aquela criada recentemente pelo Sinduscon de Juiz de Fora, “Construção contra Aedes”.
Confira a reportagem completa:
Nos últimos seis meses, o empresário Alejandro Perez tem enfrentado aquilo que costuma ser um drama para qualquer patrão: a licença médica dos funcionários. Especializado no ramo de serviços gerais, cabe a ele disponibilizar porteiros, jardineiros, vigilantes e faxineiras, entre outros profissionais, para diversas empresas. Mas desde o segundo semestre de 2015, com a proliferação do Aedes aegypti – que se agrava a cada dia –, ele já contabiliza 7,27% do quadro de pessoal com atestado. Resultado: gastos extras com a contratação de mão de obra às pressas para substituir seus empregados. “Sempre temos reservas para cobrir qualquer tipo de falta, mas o número de licenças está superando o que temos. As faltas normais triplicaram nos últimos tempos por causa da dengue”, diz Perez.
Na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), o número de atestados, somente em janeiro, chegou a 38, com média de afastamento entre sete e 10 dias. No ritmo da epidemia, a estimativa é que dezembro chegue com índice bem superior ao de 2015, ano em que 188 funcionários contraíram a dengue. Os efeitos colaterais da doença já foram sentidos na estatal. “Quando falta uma pessoa, a gente tem que se virar nos 30. Se for por exemplo no centro de operações, local em que a carga de trabalho é muito alta, principalmente em época de chuvas, um operador a menos tem um impacto bem significativo”, lamenta Demétrio Venício Aguiar, engenheiro da Cemig.
E as duas empresas não estão sozinhas: estudo realizado pela Gesto Saúde e Tecnologia – especializada em gerenciamento de saúde corporativa – revela que, em 2015, 2,5% dos funcionários de grandes empresas foram afastados durante cinco a sete dias em média por causa da dengue. A expectativa para 2016 é de que até 4% dos trabalhadores ficarão em casa durante alguns dias em razão da doença provocada pelo Aedes aegypti. De acordo com o mesmo levantamento, a dengue foi a quinta maior causa de licenças médicas nas empresas – atrás apenas de causas não informadas pelo médico, dor lombar, diarreia e gastroenterite e dor articular. No comparativo com 2014, a dengue foi a 42ª razão para afastamentos.
Para este ano, a entidade aposta que a dengue deverá ficar, no mínimo, na mesma quinta colocação de 2015, quando foram confirmados mais de 1,59 milhão de casos da doença em todo o Brasil. “Ano passado, o número de infectados pela dengue foi bem alto e neste ano estamos no mesmo ritmo. A epidemia está tão grave quanto em 2015”, alerta a gerente em inteligência em saúde da Gesto, Francine Leite. Dados do Ministério da Saúde até janeiro deste ano mostram que já foram confirmados mais de 73 mil casos de dengue em todo o Brasil – mais da metade na Região Sudeste e 21% em São Paulo. No comparativo do mesmo período do ano passado, já houve crescimento de 16,5%.
O levantamento realizado pela Gesto Saúde e Tecnologia mostra que no plano financeiro, o gasto arcado pelas empresas com o plano de saúde chega a ser 200% maior com as consultas em pronto-socorro, exames e até internações para os casos mais graves de dengue. “O impacto para as empresas não se dá só no absenteísmo, mas no plano de saúde”, afirma a presidente da Associação Mineira de Medicina do Trabalho (Amimt), Letícia Lobato Garios. Vale lembrar que o perfil de uso e sinistralidade faz parte da base de cálculo das operadoras para determinar o valor do plano de saúde custeado pelas empresas no ano seguinte.
Férias e lay-off
O presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Osmani Teixeira, confirma que o Aedes aegypti é hoje motivo de preocupação para as grandes empresas. E o prejuízo para a produtividade talvez não seja maior porque várias delas estão com funcionários em férias coletivas ou adotaram a chamada lay-off – redução temporária da jornada de trabalho e salário ou suspensão dos contratos de trabalho para requalificação profissional. Ele lembra que durante a epidemia da gripe suína as empresas tinham como ajudar mais no combate à doença por meio do fornecimento de vacinas. No caso da dengue, ainda não há esse tipo de medicamento.
Para o empresário que tem funcionários contaminados, outro problema é pagar alguns dias de salário a mais para substitutos. Jaqueline Bacha, dona de uma rede de sete lojas de confecções no Centro de BH e em Venda Nova, que o diga. Entre seus 120 funcionários, 10% deles já se licenciaram do trabalho. “Em época de crise, não tenho como contratar pessoas para substituir as vendedoras. A gente tenta se virar para cobrir os horários sem sobrecarregar ninguém nem fazer horas extras”, alega. Para tentar evitar novas baixas, ela diz que tem vigiado pessoalmente baldes e passeios em frente às suas lojas, para verificar a existência de água parada.
Aposta na prevenção
Juiz de Fora, na Zona da Mata, vive atualmente a pior epidemia de dengue da sua história, com 2.553 diagnósticos de dengue e sete mortes já confirmadas até quarta-feira – mas ainda não incluídas no balanço da Secretaria de Estado de Saúde, que trabalha até o momento com o número de oito óbitos no estado. Diante da maior probabilidade de contaminação nos canteiros de obras, até pela natureza do trabalho, o Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon) da cidade iniciou campanha de visita aos locais. Também foi criado um selo de segurança para atestar a fiscalização realizada pelo grupo.
“Nas reuniões ordinárias, debatemos vários casos de empregados com dengue. Estamos tendo o trabalho de sensibilizar sobre os cuidados nos canteiros de obras, mas é preciso cautela também em casa para que o trabalhador evite ser infectado”, afirma o presidente do Sinduscon, Aurélio Marangon. Proprietário de uma construtora, ele já teve uma funcionária do escritório licenciada durante três dias por causa da dengue. E ele próprio foi contaminado pelo mosquito, tendo que se afastar por alguns dias da empresa.
A Fiemg lançará nos próximos dias uma campanha para combate ao Aedes aegypti. Na ArcelorMittal, foram criados cartazes usando materiais desenvolvidos pelo Ministério da Saúde e distribuídos nas portarias, refeitórios, boletins internos e na TV corporativa trazendo informações sobre as formas de prevenção e os sintomas das doenças causadas pelo mosquito. Também estão sendo feitas vistorias no piso de fábrica à procura de possíveis criadouros do mosquito. “Quando são encontradas situações favoráveis à proliferação, além de solucionar o problema é criado um relato escrito com registro fotográfico e ambos divulgados via e-mail, alertando e reforçando sobre os cuidados”, diz nota da empresa.
A Cemig indicou o engenheiro Demétrio Aguiar para participar do Comitê Gestor Estadual de Políticas de Enfrentamento da Dengue, Chikungunya e Zika, idealizado pelo governo estadual. Desde janeiro, o grupo vem se reunindo para discutir medidas de conscientização e combate aos prováveis focos de proliferação do Aedes aegypti. De acordo com Demétrio Aguiar, a Cemig tem feito campanhas internas por meio de cartazes e intranet, além de disponibilizar informações nas redes sociais e no seu site.
Estatística da dengue
Até 16 de fevereiro – data da última estatística divulgada pela Secretaria de Estado de Saúde –, foram registrados 62.271 casos prováveis (confirmados e ainda sob investigação) de dengue em Minas Gerais. Foram confirmados oito casos de morte provocada pelo Aedes aegypti, em quatro cidades. Em relação ao zika vírus, todas as 303 notificações de 2016 seguem sob investigação. Do total de casos notificados em 2015, confirmou-se laboratorialmente dois casos de zika, em Belo Horizonte e Coronel Fabriciano.
Fonte: Estado de Minas