Os financiamentos imobiliário e rural impulsionaram o crédito ao setor privado em 2014 e foram os principais responsáveis para que os empréstimos a empresas e consumidores registrassem crescimento acima da inflação no ano passado.
Dados do Banco Central mostram que crédito para a atividade econômica anotou alta de 10,2% na comparação entre 2013 e 2014, fechando o ano anterior com R$ 2,82 trilhões em estoque.
Enquanto os empréstimos habitacional e rural aumentaram suas carteiras em 27,1% e 18,2%, respectivamente, o saldo de recursos para o comércio, por exemplo, registrou alta bem mais tímida, de 5,1%, abaixo da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que fechou o ano em 6,41%.
Outros setores seguiram a tendência – o crédito ao consumo (pessoa física) teve alta de 5,3%, serviços anotou crescimento de 5,9% e indústria de 6,9%. A fatia do financiamento imobiliário no total de empréstimos ao setor particular também registrou uma alta significativa: enquanto em dezembro de 2012 ele representava 13,26% da carteira de crédito, em dezembro 2014 ele passou a ter uma representação de 17,78%.
A evolução dos empréstimos para a esfera privada foi baixa ainda se comparada com o setor público (Municípios, Estados e União), que cresceu 30,5% no período, fechando o ano passado com estoque de R$ 196,16 bilhões.
Apesar de terem spreads – diferença entre a taxa paga pelos bancos para captar recursos e os juros cobrados no empréstimo – menores, os financiamentos imobiliário e rural são mais baratos e seguros para as instituições financeiras, pois apresentam níveis de inadimplência menores e, portanto, necessitam de menos provisões para perdas com calotes, o que proporciona maior liquidez ao banco.
Segundo o BC, a inadimplência tanto dos empréstimos habitacionais, quanto dos financiamentos agropecuários fecharam 2014 em 0,4%.
Segurança e necessidade
Para o professor de macroeconomia Celso Grisi, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), existia uma demanda reprimida por crédito imobiliário, que foi atendida pelo programa político da presidente Dilma Roussef.
“Os juros menores e o alongamento dos prazos permitiram que as parcelas fossem significativamente menores. Com isso as pessoas passaram a ter acesso a casa própria”, analisou Grisi.
De acordo com ele, no caso do financiamento rural, o crescimento foi resultado da expansão da área plantada. “Onde não houve expansão de território, foi preciso aumentar a produtividade, o que aumentou a demanda por crédito para financiar novas tecnologias e processos”, disse.
O professor de Finanças Ricardo Couto, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) afirmou, entretanto, que, neste ano, deve haver uma acomodação no nível de crescimento dos empréstimos agrícola e imobiliário.
“A restrição [dos bancos] no crédito também deve continuar no curto prazo”, observou o professor.
Fonte: CBIC