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Queda nas vendas reduz preços dos materiais de construção

Em 12 meses, os preços de material da construção civil aumentaram em 3,4% – índice bem abaixo dos 9,53% da inflação registrada no país. Apesar do aumento geral, considerado tímido pelo segmento, há o setor apresenta uma retração de 40% nas vendas, reflexo da baixa demanda dos construtores e também da insegurança dos consumidores para iniciarem uma reforma na casa ou apartamento, neste momento de retração na economia. Hoje, um pacote de cimento, por exemplo, está custando em média 4,76% a menos do que custava no ano passado. Em alguns locais, a redução foi de 10%. Quem pesquisa vai encontrar descontos em tintas, massa corrida e comerciantes dispostos a negociar.

“Tudo que sobe, um dia cai. Vivemos um período de oito anos que foram muito bons. Porém, agora, as dificuldades estão grandes demais para nós”, comenta o presidente da Associação do Comércio de Materiais de Construção de Minas Gerais (Acomac), Paulo Zica Castro. Segundo ele, o impacto da crise econômica no país vem impactando nas vendas de materiais. “À medida em que a recessão se prolonga e, com ela, as incertezas, as vendas para as construtoras e varejo vão sendo afetadas”, diz Castro. Com o cenário, ele diz que os lojistas passaram a brigar mais pelo comércio e, com isso, os preços podem diminuir. “A coisa está tão complicada que nem o construtor nem quem revende está enxergando uma saída”, afirma.

Os dados são do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG), por meio do Custo Unitário Básico (CUB/m2 – que acompanha o custo da construção). Segundo a entidade, há uma estabilidade nos preços. Nos últimos 12 meses, houve um aumento de 3,40% no custo da construção. Alguns materiais tiveram alta, como, por exemplo, a placa de gesso lisa, que sofreu reajuste de 16,56% quando comparado com o valor registrado em agosto de 2014. Outros itens tiveram queda, como o cimento, que reduziu em 4,76% (veja quadro).

“Os aumentos podem ser justificados com a alta do dólar (R$ 4,10 – cotação de ontem) e também com fatores de sazonalidade. Mas analisando os índices, houve uma estagnação. Antes, os preços dos materiais acompanhavam a inflação e, agora, estão bem abaixo dela. Mas, também, tínhamos um aumento real na mão de obra e, hoje, não temos”, diz Daniel Furletti, coordenador sindical e economista do Sinduscon-MG. Segundo ele, não tem havido “ambiente para o aumento dos preços, justamente por causa da recessão na economia”.

Furletti cita que a construção civil sofreu, em Minas, uma queda de 8,5% na sua atividade. “É um setor que empregava 3 milhões de pessoas no país, hoje são 2, 9 milhões. Estamos diminuindo postos de trabalho”, destaca. Só em Minas, em 12 meses, foram fechadas 58 mil vagas no setor. “Com o desemprego e queda na renda, cai a demanda por esses materiais”, diz. Foi o que aconteceu na loja RC Tintas, da qual Clayston Rodrigues é sócio. Ele diz que, nos últimos meses, houve uma queda 40% no movimento da loja, que é mais voltada para o construtor. “Com o desemprego, quem mexia com pintura passou a não vir. Quem está salvando, agora, é o consumidor final, que passou a vir com mais frequência e tem nos ajudado a equilibrar as contas”, diz.

Movimento

Ele conta que, no ano passado – melhor época para as suas vendas – o seu estabelecimento chegava a ter um faturamento mensal de R$ 250 mil com as tintas. “No começo do ano caiu para R$ 180 mil e, agora, está em R$ 220 mil”, compara. Clayston diz que tem conseguido negociar com os fornecedores, tanto é que uma lata de tinta rende e cobre muito da Suvenil que custava na sua loja R$ 169,90, agora está a R$ 153,90. “Para os pintores, nosso público-alvo, estamos oferecendo transporte nas vendas”, revela. Na loja Ferragens Favorita, de Antônio Guimarães, o valor do saco de cimento está 10% mais barato, passou de R$ 23,50 para R$ 21. “Aqui, atendemos muito as obras públicas que estão paradas. No varejo, a queda foi de 30%. Tenho 35 anos de mercado e nunca vi os preços das mercadorias reduzirem. Muitos produtos estão nas mãos de pequenas empresas”, diz.

Para Daniel Furletti, da Sinduscon, com a estagnação dos preços, é hora da reforma para a dona de casa. Porém, mesmo com algumas reduções de preços, o consumidor e médico Carlos Goés, ainda tem avaliado que os valores estão altos. Ele está reformando sua farmácia e consultórios e diz que, onde foi, não achou nada barato. “A mão de obra passou de R$ 100 para R$ 180, o dia. A tinta que custava R$ 145, agora está R$ 160. Não senti redução em preços, é preciso pesquisar para achar os bons valores”, indica.

Variações
Confira a movimentação nos preços de materiais para a construção nos últimos 12 meses:

» O QUE SUBIU

Tinta latex: 20,12%
Porta semi-oca
para pintura: 17,11%
Placa de gesso liso: 16,56%
Bloco cerâmico: 11.11%
Tubo de PVC rígido
para esgoto: 10,22%

» O QUE CAIU

Chapa de compensado plastificado 18mm 2,20X 1,10 m: -1,10%
Cimento CP 23 II: -4,76%
Areia media: -2,21%
Placa cerâmica (azulejo) de dimensão 30cm x 40cm, PEI II, cor clara, imitando pedras naturais: -0,70%

Fonte: CUB/m2 Sinduscon-mg

CRÉDITO
A busca do consumidor por crédito no País caiu 9,2% no acumulado de janeiro a agosto deste ano, na comparação com o mesmo período de 2014, informou ontem a Boa Vista Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). Em agosto, o indicador mostrou queda de 4,5% ante julho. Em relação ao mesmo mês de 2014, a diminuição foi de 4%. No acumulado dos últimos 12 meses, a redução em agosto chegou a 9,9%. Entre os segmentos que compõem o indicador, a demanda dos consumidores por crédito em instituições financeiras caiu 4,8% em relação a julho. Já no setor não financeiro, a queda foi de 4,3%. A redução na busca por crédito representa cautela do consumidor em um período de incerteza econômica, avaliaram em nota os economistas da Boa Vista SCPC.

Desconfiança em alta

O Índice de Confiança da Indústria (ICI) recuou 2,9% em setembro ante agosto, passando de 68,0 para 66,0 pontos, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). É o menor nível da série histórica. O resultado sucede uma alta de 1,5% em julho e queda de 1,6% em agosto. A queda do ICI na margem foi impulsionada pelo resultado do Índice de Expectativas (IE), que teve decréscimo de 4,2%, para 64,0 pontos, enquanto o Índice da Situação Atual (ISA) diminuiu 1,9%, para 67,9 pontos.

A maior contribuição para a queda do IE veio do quesito que mensura o ímpeto de contratações pelas empresas industriais nos três meses seguintes. Houve diminuição na proporção de empresas prevendo aumento do pessoal ocupado, de 7,3% para 6,1%, e aumento da parcela das que projetam redução, de 30,7% para 34,5% Esse é o maior porcentual desde janeiro de 1992 (38,7%).

No ISA, a principal influência de alta foi do indicador que avalia a satisfação com a situação atual dos negócios. A proporção de empresas que avaliam a situação dos negócios como fraca atingiu o máximo histórico. Em setembro, aumentou de 46,9% para 49,1

 

A FGV também informou que entre agosto e setembro o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) recuou 1,2 ponto porcentual, ao passar de 77,7% para 76,5%, o menor nível desde janeiro de 1993 (73,6%). Na avaliação do superintendente Adjunto para Ciclos Econômicos da FGV/IBRE, Aloisio Campelo Jr., a questão política é um fator que ajuda a explicar a persistência da insegurança dos empresários industriais sobre o futuro.

Fonte: Estado de Minas