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Lava-Jato ajuda a derrubar construção civil no pior trimestre desde 1996

RIO – Com peso de 28% sobre a indústria, a construção civil teve o seu pior trimestre desde o início da série histórica do PIB, em 1996. Com uma queda de 8,4% frente ao primeiro trimestre, o setor respondeu por pelo menos um quinto (21%) da queda de 1,9% do PIB, segundo cálculo da LCA Consultores. Isso representa 0,4 ponto percentual do resultado negativo. Se forem incluídos impactos indiretos — o setor é intensivo em mão de obra e, por isso, demissões têm impacto em consumo — essa parcela pode chegar ao dobro, ou 0,8 ponto percentual.

— O resultado da construção civil sugere que o impacto da Operação Lava-Jato talvez seja mais forte do que se esperava. O recuo de 8,4% nem de longe se viu em outros setores, foi uma queda muito abrupta — explica o economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges.

As perdas também ocorreram em outras bases de comparação. Frente ao segundo trimestre do ano passado, o recuo foi de 8,2%, o pior desde 2003. No acumulado do semestre, o recuo já chega a 5,5%.

Um desempenho que tem impacto direto sobre o nível de investimentos no país. No segundo trimestre, a formação bruta de capital fixo (indicador que inclui a compra de máquinas, equipamentos e a construção civil) teve queda de 8,1% em relação aos três meses anteriores. Frente ao mesmo período do ano passado, o tombo foi de 11,9%, o pior desde 1996.

CBIC: ‘MORTE ANUNCIADA’

Com isso, a taxa de investimento recuou de 19,5% do PIB, no segundo trimestre de 2014, para 17,8% — menor percentual para o período em oito anos. Em proporção semelhante, caiu também a taxa de poupança, formada pelos recursos guardados por empresas, famílias e governo: e 16% para 14,4%. Segundo Carlos Rocca, diretor do Centro de Estudos do Ibmec e autor de estudos sobre a deterioração da poupança nacional, a maior parte desse recuo decorre do estrangulamento da capacidade de poupar das empresas.

— Essa queda da taxa de poupança já vem há alguns anos. A partir de 2010 e 2011, isso começa a acontecer de modo muito significativo — diz Borges.

Com a piora do ambiente para investir, as perspectivas para a construção civil não são boas. Para José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a situação do setor é uma “morte anunciada”.

— Estamos alertando o governo desde o início do ano que isso iria acontecer. Elevar impostos e reduzir investimento para equilibrar as contas públicas não dá certo. Sem receita, a conta não fecha — diz Martins, que estima corte de 500 mil empregos no setor neste ano. — É preciso coragem para encarar o problema real: cortar gastos públicos.

Luís Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, lembra que a situação tende a se deteriorar, com a piora da economia e do cenário político:

— Não é surpresa essa queda na construção civil. E a tendência não é de melhora, porque o setor é um reflexo da situação econômica e política do Brasil.

Para Fabio Silveira, da GO Associados, é preciso uma retomada da confiança.

— O investimento depende de confiança e expectativa. Quando não tem, não há investimento — afirma. — Para melhorar, tem de baixar o endividamento das famílias e das empresas. Aí vamos ver a tão decantada força do empreendedorismo, é preciso saber como e onde cortar.

Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos de Construção da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que o resultado da construção civil não foi inesperado. Pesquisa de emprego da FGV mostrou recuo de 8,8% nas empresas com canteiro de obras na construção civil no primeiro semestre, em comparação ao mesmo período de 2014.

— A sondagem da Construção mostrou queda de 26% na confiança do empresário em agosto. O setor está sofrendo pressão de todos os lados. Há corte de investimentos públicos e privados, além de queda na demanda — explica ela.

Fonte: OGlobo.com