Num ano em que a economia brasileira cresceu apenas 0,1%, os setores de energia elétrica e construção civil apresentaram alguns dos maiores prejuízos registrados entre as companhias de capital aberto no Brasil em 2014. Levantamento da consultoria Economática indica que – entre as 20 maiores perdas sofridas no ano passado por empresas cotadas na BM& FBovespa – quatro foram de companhias de energia elétrica e três de construtoras. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos dois setores, o desempenho de ambos foi bastante distinto.
Mesmo num ano marcado pela crise hídrica, o setor elétrico brasileiro apresentou em 2014 uma melhora na lucratividade. Juntas, suas dez maiores companhias (pelo critério do valor de mercado) registraram lucro líquido de R$ 5,76 bilhões no ano passado, mais de três vezes o montante obtido em 2013 (R$ 1,81 bilhão), de acordo com dados compilados pela Economática. “Em 2013 tivemos os efeitos da MP 579”, lembra Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Publicada em setembro de 2012 e convertida em lei no ano seguinte, a medida provisória impactou negativamente o fluxo de caixa das empresas do setor, ao mexer na renovação das concessões de ativos de geração e transmissão. “E, no ano passado, as empresas sofreram os efeitos da crise hídrica. Houve necessidade de reduzir a geração das usinas hidrelétricas para preservar o nível dos reservatórios”, acrescenta Castro.
Na comparação ano contra ano do lucro líquido, um dos fatores de maior peso foi justamente a diminuição das perdas da Eletrobras. No ano passado, o prejuízo líquido da holding estatal foi de R$ 3,03 bilhões, menos da metade do montante negativo registrado em2013 (R$ 6,28 bilhões). “A Eletrobras foi atingida pela crise hídrica, pelos efeitos da renovação das concessões de ativos e, também, pelos resultados de suas distribuidoras deficitárias”, resume Karina Freitas, analista da Concórdia Corretora. A holding aparece em segundo lugar no ranking dos maiores prejuízos líquidos de companhias abertas em 2014, atrás apenas da operadora Oi (R$ 4,4 bilhões), cujo resultado foi impactado por questões contábeis relacionadas à venda de ativos da Portugal Tele com. Ainda no setor elétrico, a Eneva – que se encontra em recuperação judicial – amargou perda de R$ 1,51 bilhão, a quinta maior do ano passado. Celg (15 9 lugar) e CEEE (18 9 ) completam a lista, com prejuízos de R$ 613 milhões e R$ 445,2 milhões, respectivamente.
Já na construção civil, o lucro líquido das dez empresas de capital aberto mais valiosas totalizou R$ 2,15 bilhões em 2014, uma redução de 41,5% na comparação com o ano anterior. Além da alta na taxa básica de juros e da desaceleração da economia, o setor é pressionado por estoques altos, o que levou construtoras a diminuir ou mesmo cancelar o lançamento de novas unidades no primeiro trimestre de 2015. Outra medida adotada no início deste ano para reduzir estoques foi a realização de “feirões” e promoções, com descontos sobre os preços de tabela.
Entre as companhias do setor, o maior prejuízo em 2014 – segundo a Economática – foi o da Brookfield: R$ 1,23 bilhão (8 9 lugar). Na sequência, aparece a Rossi (13ª colocação) e a PDG (18º), com resultados negativos de R$ 619,42 milhões e R$ 529,2 milhões, respectivamente. No extremo oposto, a mineira MRV, focada em imóveis populares, obteve no ano passado ganho de R$ 720,2 milhões – um crescimento de 70,2% em relação aos R$ 423,08 milhões de lucro líquido registrados em 2013.
Fonte: Brasil Econômico