A queda de 0,11% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) entre dezembro e janeiro, na série com ajuste sazonal, reforçou a avaliação de que o primeiro trimestre será de retração do Produto Interno Bruto (PIB). Para economistas, o recuo do indicador, que é uma espécie de “termômetro” do comportamento mensal do PIB, surpreendeu, já que tanto a produção industrial como as vendas no varejo haviam subido naquele mês. É uma evidência, avaliam, de que a redução do ritmo de crescimento econômico do país está se espraiando para outros setores, como serviços.
“O setor, que até então era considerado o mais dinâmico da economia, deu nos últimos três meses sinais de que o quadro começa a mudar, à semelhança do que ocorreu com a indústria”, diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. O índice de confiança do segmento, afirma, já mostra forte deterioração. Calculado pela Fundação Getulio Vargas, a sondagem com empresários do ramo mostrou queda de 5,4% da confiança entre janeiro e fevereiro, para o menor nível da série iniciada em junho de 2008.
“A gente começa a perceber que há generalização da tendência de arrefecimento da economia, não é mais privilégio de um ou outro ramo de atividade”, afirma o economista, para quem a queda do IBC-Br surpreendeu, já que a expectativa era de alta de 0,6% no período.
Para Leandro Padulla, economista da MCM Consultores, a variação do índice surpreendeu negativamente justamente porque outros indicadores mostravam crescimento no período. “Os indicadores coincidentes apontavam para crescimento em janeiro. É mais um indício de que o primeiro trimestre foi de fraqueza da atividade”, diz o economista.
Entre os indicadores que mostravam avanço no período, afirma Padulla, estavam a alta de 0,6% das vendas no varejo ampliado, que considera também o desempenho do comércio de automóveis e material de construção, e o aumento de 2% da produção industrial, sempre considerando o período entre dezembro e janeiro, feitos os ajustes sazonais. “Não estava no radar a queda desse mês’, diz.
A perspectiva, afirma, é de que fevereiro seja um período ainda mais morno, com retração da produção industrial e do comércio, enquanto o mercado de trabalho também apresenta piora.
Padulla aguarda a divulgação da revisão da série histórica das Contas Nacionais para atualizar suas projeções para a atividade econômica no primeiro trimestre, mas avalia que o período entre janeiro e março foi de retração do PIB, em relação ao quarto trimestre do ano passado.
Com a surpresa negativa em janeiro, diz Rosa, da SulAmérica, é possível que o PIB caia até mais do que sua estimativa atual, de retração entre 0,1% e 0,2% na comparação com o quarto trimestre, na série com ajuste.
A queda do IBC-Br entre janeiro e dezembro também levou o índice acumulado nos últimos 12 meses a perder fôlego, mais um sinal de que a economia continua a desacelerar. De uma queda de 0,25% até dezembro do ano passado, agora o IBC-Br registra recuo de 0,39%.
Rosa não vê sinais de melhora. “Não dá para se iludir com isso. Os fundamentos em torno do consumo são frágeis, o varejo está claramente em desaceleração, não dá para esperar por reversão ou estabilização do quadro”. Com a ressalva de que o viés para sua estimativa é de baixa, o economista avalia que o cenário negativo no primeiro semestre do ano, principalmente, deve levar a economia brasileira a uma contração de 0,7% neste ano.
Já a MCM revisou seu cenário para a economia brasileira em 2015. A consultoria agora prevê queda de 1,2% do PIB neste ano, enquanto a inflação deve alcançar 8,1% em dezembro. “Incorporamos ao nosso cenário a queda forte da confiança de empresários e o impacto da Operação Lava-Jato sobre investimentos e atividade”, afirma Padulla.
Fonte: Valor Econômico